Esposa, Mãe e Médica
Texto: Expedição 19
Todos nós já ouvimos a seguinte frase: “A santidade é para todos”.
A história da vida de Santa Gianna Beretta Molla, uma santa do século XX, ou seja, de nosso tempo, é uma prova de que realmente esta afirmação faz muito sentido. É claro, que entre outros beatos e santos há várias histórias de vida que também fazem jus a esta frase. Mas o que talvez tenha chamado um pouco mais minha atenção, são as particularidades da história desta santa italiana com o Brasil. Em vida ela nutriu a ideia de ser missionária junto ao seu irmão frei Alberto Beretta, no estado do Maranhão. E após seu nascimento para a vida eterna, esse estreito relacionamento continuou. Os milagres da beatificação e canonização de Santa Gianna, foram realizados aqui no Brasil.
Nascida no dia 04 de Outubro de 1922 (festa de São Francisco de Assis), em Magenta (cidade próxima a Milão), na Itália. Gianna é filha do casal Alberto Beretta e Maria de Micheli. Seus pais são membros da Ordem Terceira dos Franciscanos e batizam a décima de treze filhos, com o nome de Giovanna Francesca (Giovanne é o nome de batismo de São Francisco de Assis). Dos treze filhos, somente oito chegam à vida adulta, três deles se tornam religiosos: Giuseppe, um padre diocesano na Itália, que também é engenheiro, Enrico que se tornou (o frei Alberto) um frade capuchinho médico missionário no Brasil e Virgínia, uma freira canossiana que também é médica e missionária na Índia.
Mas voltando a história de Giovanna, que era carinhosamente chamada de Gianna, muda-se com a família para Bérgamo em 1925 e lá, recebe a primeira comunhão aos 5 anos e meio de idade. A partir de então, a comunhão passa a ser seu principal alimento diário. Dessa forma, Deus torna-se o centro de sua vida.
Gianna tem uma vida comum, cresce serena e ama todas as coisas maravilhosas que Deus proporciona em sua vida: como a música, a pintura e as viagens às montanhas; Gianna fazia alpinismo e amava esquiar na neve. Mas, como na vida de todos nós, há vários obstáculos a serem vencidos. São eles que nos aproximam de Deus e fortalecem nossa fé.
Em janeiro de 1937, a irmã mais velha de Gianna, vem a falecer e sua família se muda para Gênova. Talvez, seja nesse momento da vida de Gianna, que inicia-se uma profunda caminhada espiritual. Durante um retiro para alunas da escola onde estudava, Gianna teve uma experiência que marcou sua vida. Desse retiro, restou um caderno de anotações onde é possível ler: “Quero temer o pecado mortal como se fosse uma cobra; e repito: mil vezes antes morrer, do que ofender ao Senhor”. Gianna se dedica, com outros jovens, ao apostolado da Ação Católica e também ao trabalho de caridade para necessitados e idosos das Conferências de São Vicente de Paulo.
Em 1942, Gianna perde os pais e regressa com os irmãos para Magenta. No final deste mesmo ano, Gianna se inscreve no curso de Medicina da Universidade de Milão e sete anos mais tarde, em novembro de 1949, recebe os títulos de cirurgiã e médica na Universidade de Pávia, para onde havia se transferido. Ela sempre dizia: “Médicos católicos são extremamente necessários. Jesus disse que quem visita um doente, visita a Ele mesmo. Então quem toca um paciente, toca o Corpo de Cristo.”
Entre os anos de 1950 e 1952, agora já médica, Gianna se especializa em Pediatria e abre um consultório na cidade de Mesero, mas também atendia aos idosos abandonados e carentes. Gianna se corresponde por cartas com seu irmão, Frei Alberto, que é missionário capuchinho no Brasil. Ele sempre lhe relata sobre seu trabalho como médico na cidade de Grajaú, em um hospital que seu irmão Giuseppe ajudou a construir. A vontade de sempre ajudar ao próximo desperta em Gianna o desejo de se tornar uma missionária leiga para auxiliar o irmão que está no Brasil.
Nem sempre o que julgamos que é melhor, é o correto a ser feito. Nossa vida é guiada pela providência divina, quase sempre não entendemos os desígnios de Deus, mas Ele sempre estará a nos guiar. O diretor espiritual de Gianna a convence que sua vocação é o matrimônio.
Em 1954, Gianna conhece Pietro Molla e se casam no dia 24 de setembro de 1955. O amor, cumplicidade e respeito entre Pietro e Gianna é algo muito exemplar; prova disso são as correspondências que trocavam desde o período do namoro; realmente um casal que vive em sua plenitude, a vocação do sacramento do matrimônio. Gianna dizia a Pietro em uma das cartas; “… sempre me disseram que o segredo da felicidade é viver momento a momento e agradecer ao Senhor por tudo que Ele faz…” Estas cartas podem ser lidas no livro: “Cartas de amor de uma santa”.
Pietro e Gianna foram presenteados por Deus com três lindos filhos: Pierluigi em 56, Mariolina em 57 e Laura em 1959. Em seis anos e meio de matrimônio, Gianna teve seis gestações, em duas delas ocorreram abortos espontâneos.
Em setembro de 1961, no final do segundo mês de sua sexta gestação, Gianna é diagnosticada com um Fibroma Uterino (também conhecido por Mioma), um tipo de tumor benigno no tecido muscular do útero. Diante dessa circunstância, Gianna é abordada pelos médicos com três opções: a primeira e mais segura para a sua vida é a retirada do útero, mas provocaria o aborto e impossibilitaria um outra gravidez. A segunda opção era remover o fibroma e interromper a gestação. Essa opção talvez lhe possibilitaria uma nova gravidez, mas o aborto era inevitável. E uma terceira opção, a mais arriscada, que era uma cirurgia para a retirada do fibroma, mas preservando a gestação. Uma opção descartada pelos médicos pois causaria um eminente risco para a vida da mãe e do bebê, não somente morte, mas também sequelas.
Gianna é médica e tem total conhecimento da gravidade da situação, exige que seja feita a terceira opção, pois esta é a única maneira de preservar a vida daquele ser humano indefeso que estava dentro de seu ventre. E assim foram mais sete meses de gestação.
Dias antes do parto, Gianna diz ao seu marido: “Caso houver algum problema e tiver que escolher entre eu ou a criança; eu lhe peço, por favor, escolha a criança”.
Na sexta-feira santa de 1962, Gianna dá entrada no hospital e no dia seguinte, 21 de Abril, nasce sua filha Gianna Emanuela. Uma criança saudável e perfeita. Algumas horas após, as condições de Gianna começam a piorar; tem uma febre altíssima e dores abdominais terríveis causadas por complicações no parto. Gianna vive esse calvário por mais uma semana e durante todo o tempo fica repetindo: “Jesus eu Te amo, Jesus eu Te amo”. Na terça e sexta-feira desta semana, recebe a Santa Comunhão e pede ao seu marido que a leve para a casa, porque não queria morrer no hospital.
Já em sua casa e após ouvir a voz de seus filhos, Gianna vem a falecer às 8 horas da manhã no dia 28 de abril de 1962, na mesma cama onde havia dado à luz aos seus outros três filhos. Seu funeral foi celebrado na pequena igreja de Nossa Senhora do Bom Conselho, onde Gianna ia todos os dias às missas, antes só e depois com os filhos, durante os seis anos e meio de casada.
Como disse no in´ício deste texto, os milagres da beatificação e canonização de Santa Gianna foram concedidos aqui no Brasil. O milagre da beatificação foi em 1977, na cidade de Grajaú, no Maranhão, no hospital onde o irmão de Gianna trabalhava. A miraculada foi Lúcia Silva Cirilo. Ela havia dado à luz um bebê morto e uma fístula reto-vaginal, resultado de uma complicação no parto, ameaçava a vida da jovem que era protestante. Uma cirurgia era necessária, mas só seria possível em um hospital da capital São Luiz a 600 quilômetros de distância. Uma irmã capuchinha, Bernardina de Manaus, que era enfermeira no hospital, pediu a intercessão da então Serva de Deus Gianna Beretta Molla. A cicatrização foi imediata sem a necessidade de cirurgia. O milagre foi reconhecido pelo Vaticano e Gianna foi beatificada em 1994.
O segundo milagre, o da canonização, foi no ano 2000, na cidade de Franca, estado de São Paulo. A miraculada foi Elisabete Comparini Arcolino. Quando ela estava no quarto mês de sua quarta gestação, a bolsa amniótica se rompeu perdendo todo líquido de seu interior. A orientação médica foi o aborto, era impossível a sobrevivência e desenvolvimento de um feto, sem o líquido amniótico. Na época Dom Diógenes Silva Matthes, era o bispo local. Foi ele quem pediu a intercessão da beata Gianna Beretta Molla. No dia 31 de maio do ano 2000, nasce a pequena Gianna Maria. Uma criança perfeita sem nenhum tipo de sequelas. Mãe e filha não tiveram nem uma complicação. O milagre foi reconhecido pelo Vaticano e no ano de 2004 o Papa João Paulo II canonizou Santa Gianna Beretta Molla. Foi a primeira vez na história da Igreja que um marido esteve presente na canonização da esposa.
Seus restos mortais estão no cemitério de Mesero, onde estão seus familiares estão sepultados e também no Santuário de Santa Gianna Beretta Molla, que fica na mesma cidade italiana.
Santa Gianna Beretta Molla, esposa, mãe e médica, é festejada no dia 28 de Abril.
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