O jovem mártir Cristero
Texto: Expedição 19
A perseguição religiosa é muito mais atual do que muitas pessoas imaginam. Apesar de ser mais acentuada no Oriente. Há também vários fatos no Ocidente.
Vamos conhecer um pouco da história de São José Sanches Del Rio. Um adolescente mexicano que foi um dos vários mártires da Contrarrevolução Cristera ou Cristiada, no México. Essa guerra, que foi uma história real ocorrida entre os anos de 1926 e 1929, é muito pouco divulgada. Muitos católicos, inclusive mexicanos, quase nada sabem a seu respeito.
Nascido em 28 de Março de 1913, na cidade de Sahuayo, Michoacán, no México. José Sanchez Del Rio é o terceiro filho de Macário Sanchez e Maria Del Rio. De família plenamente católica, José é batizado dias após seu nascimento. É um menino inquieto e alegre como todas as crianças de sua idade. Seu gosto por cavalos e pela vida no campo é o que diferencia Joselito dos outros meninos de Sahuayo. Conhece a pobreza e o trabalho desde criança, mas acima de tudo, cresce rodeado da unidade familiar e dos valores cristãos que dão sentido a sua vida.
José ou Joselito, se torna coroinha e desde sua primeira comunhão, decide cultivar uma amizade sincera e fiel com Jesus.
Em 1926, estoura a guerra dos Cristeros. Cristeros porque seu grito de guerra é: “Viva Cristo Rei” e inicialmente são chamados de Cristo reieros. Essa guerra é uma reação e luta de camponeses mexicanos católicos em defesa às imposições do presidente maçom Plutarco Elías Calles e sua brutal perseguição anticatólica. Para se ter ideia, naquela época Sahuayo tinha 10 mil habitantes e 25 padres. Por esses dados é possível imaginar o quão grande é o catolicismo enraizado naquele povo.
A vigência de uma lei federal proíbe a celebração de missas, batizados e casamentos. Para nossa realidade, é difícil de imaginar, mas foi algo que realmente aconteceu. Dos 25 padres apenas 3 puderam continuar a conferir os sacramentos, mas com inúmeras restrições.
A região é cem por cento Cristera e os homens e mulheres do oeste do estado de Michoacán se destacam pela corajosa defesa da Fé e dos sagrados direitos de seguirem a Cristo. Essa mobilização acaba por chegar à família de José Sanchez e seus dois irmãos mais velhos se alistam no crescente exército Cristero.
Quando tem 14 anos de idade, José Sanchez, junto de seus pais, visitam o túmulo do Beato Anacleto González Flores, na cidade de Guadalajara. Ali, em frente ao jazigo do Mártir Cristero, José tem a certeza que também quer ser um soldado Cristero. Seus pais, acreditam que nenhum general o aceitaria em seu exército e permitem que José escreva para o general Cristero Ignacio Ramirez. Passado um tempo, recebe a resposta e, ao ler as primeiras linhas da carta, fica desiludido. O general diz que José está de parabéns por sua coragem e determinação, mas que seria muito mais útil à causa Cristera se ficasse na segurança de sua casa junto de seus pais.
Aquilo foi um balde de água fria nas pretensões do jovem Joselito, ele estava convicto que seria aceito pelo general e sem hesitar rasga a carta. Logo que um amigo de José soube que ele havia recebido a carta, mas a rasgou sem ler até o fim, convence Joselito a juntar os pedaços e ler o que o general escreveu. Na carta estava escrito que nenhum general aceitaria um soldado com aquela idade, principalmente ali no distrito de Sahuayo. José e o amigo, chamado de Trino, partiram então para uma outra alternativa. Um deles diz: “Se aqui em Sahuayo não é possível, vamos para outro lugar!”
O primeiro passo foi convencer seus pais. Lhes promete que sempre estaria a trabalhar na retaguarda e jamais pegaria em armas antes de sua maioridade. Foi quando disse à sua mãe: “Nunca foi tão fácil ganhar o céu como agora.” Sendo assim, com a autorização de seu pai e sua mãe, Joselito e o amigo seguem para a cidade de Cotija, que fica a mais ou menos 45 quilômetros de Sahuayo. Lá conseguem chegar até o general Prudencio Mendoza, e melhor são ouvidos por ele, que acaba se convencendo, mas apenas para ajudarem na estrutura de retaguarda e coloca ambos sob o comando do general Rubén Guízar Morfin. Só uma explicação rápida: esses generais eram comandantes dos Cristeros de cada região. Ou seja, para cada região um general, um comandante.
Finalmente, Joselito é um Cristero. Desde o início se distingue por sua presteza. Era visto em todo o acampamento, engraxando as armas, fritando o feijão para a comida e cuidando para que os cavalos não ficassem sem água e pasto. Junto com os outros cristeros, José rezava o santo rosário a Maria Santíssima todas as noites, antes de ir para a cama e descansar.
Impressionado com o fervor religioso e o espírito intrépido de José, Morfin fez dele corneteiro e porta-bandeira da tropa. Seu trabalho era cavalgar ao lado do general carregando o estandarte de batalha e dar sinais de ataques ou retiradas por possíveis situações que porventura viessem surpreender o exército.
No dia 6 de fevereiro de 1928, os Cristeros comandados por Morfín travam uma batalha com as forças federais nas proximidades de Cotija e o cavalo do general é atingido por tiros. Nesse momento, José salta de sua própria montaria e a oferece ao chefe, dizendo: “Meu general, aqui está o meu cavalo. Salve-se. Eu não sou necessário, mas você é.” Consequentemente, José e outros Cristeros são capturados.
Normalmente, os soldados atiram em todos os Cristeros que capturam vivos ou os enforcam em árvores. Mas José foi persuadido a se alistar nas tropas do governo, assim ganharia a liberdade. Inspirado pelos mártires da Fé, diz: “Eu jamais lutaria ao lado de um exército anticristão.
No dia seguinte, José é transferido para Sahuayo e preso na paróquia de São Tiago Apóstolo, aquela em que havia sido batizado. Fica chocado, o local está tomado por animais. A igreja foi transformada em um misto de galinheiro e estábulo.
Ali José fica mais três dias, até que no dia 10 de fevereiro, o transferem para o quartel. Os militares do governo lhe arrancam a pele das solas de seus pés com uma faca. Sentindo as dores terríveis no próprio corpo, pensa em Cristo na cruz e oferece-lhe todo seu sofrimento. Após longos momentos de torturas, Joselito é amarrado pelos pulsos e obrigam-no a andar descalço com os pés feridos pelas ruas até o cemitério. Às vezes, interrompem a caminhada e dizem: “Se você gritar ‘Morte a Cristo Rei’, pouparemos sua vida.” José apenas gritava: “Jamais desistirei. Viva Cristo Rei! Viva Santa Maria de Guadalupe! ”.
Quando chegam ao cemitério, colocam o menino diante de um buraco recém cavado e furam seu corpo com golpes de baioneta. A cada estocada, o menino grita mais alto: ” Viva Cristo Rei!” Em seguida, o comandante da guarda lhe pergunta se ele quer mandar um recado para os pais e José responde: “Que nos veremos no céu. Viva Cristo Rei! Viva Santa María de Guadalupe!” Sem piedade, o capitão atira na cabeça de José e ele cai dentro da cova. Eram onze e meia da noite, do dia 10 de fevereiro de 1928. Foi canonizado em 2016 pelo Papa Francisco.
Seu túmulo está na igreja de São Tiago Apóstolo em Sahuayo, no México. Na cidade também existe uma escultura de São José Sanches que fica em um local chamado Ruta Del Martirio. Uma estátua de bronze que tem à sua frente pegadas que ficam iluminadas à noite, marcam o caminho percorrido por Joselito até o cemitério, onde há um monumento sinalizando o local de seu martírio.
São José Sanchez Del Rio, o jovem mártir Cristero, é festejado no dia 10 de fevereiro.
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