Bispo e Doutor da Igreja
Texto: Expedição 19
Um homem que no princípio de sua vida não era um religioso, viveu uma vida pagã e teve um filho fora de um casamento. Mas através das orações de sua mãe, Santa Mônica e em seus estudos de filosofia, encontrou Deus e se converteu. Santo Agostinho foi o primeiro grande filósofo cristão do primeiro milênio e é conhecido mundialmente. Ele nos deixou inúmeras obras literárias. Entre elas estão: Confissões e Cidade de Deus, além de inúmeros sermões e outros escritos.
Nascido em 354 em Tagaste, no norte da África. Hoje esse lugar se chama Souk Ahras e está no território da Argélia. Aurelius Augustinus, era o primeiro filho de três do casal Mônica e Patrício. A mãe, uma mulher cristã, que se tornou santa e o pai um pagão, que se converteu antes de morrer.
Aos 11 ou 12 anos de idade, Agostinho vai estudar em Madaura, uma cidade próxima a Tagaste. Mais tarde quando tinha por volta de seus 17 anos vai para Cartago estudar retórica. Cartago, era a maior cidade do Ocidente latino depois de Roma, um grande centro do paganismo, que a doutrina cristã não havia conseguido converter. Agostinho se entrega às luxúrias do mundo. Mas ao contrário do que é dito sobre o santo, ele não era um devasso. Em Cartago, ele passou a viver com uma mulher em concubinato (uma união estável) e viveu junto com ela durante 14 anos. Disse ele mais tarde em seu livro Confissões, que foi fiel a ela como um marido durante todo o tempo que estiveram juntos. Essa união lhe deu um filho, Adeodato, que nasceu quando Agostinho tinha por volta de 18 ou 19 anos. Nessa época acontece a primeira reviravolta em sua vida. Além do nascimento de seu filho, seu pai morre e ele conhece através de um livro, Marco Túlio Cícero, um grande orador romano que viveu no século I antes de Cristo. Neste livro Cícero escreve que ficar atrás de riquezas e dos prazeres humanos eram coisas passageiras e isso era uma grande tolice.
A partir daí Agostinho começa uma intensa busca pela verdade (pela razão). Ele começa esta busca pela própria igreja católica através dos estudos dos textos da bíblia, mas esbarra em um preconceito que ele carregava dentro de si: e não encontra êxito em seus estudos. Agostinho nos mostra que o pré-conceito contra a igreja católica nos dias de hoje, já existia há muito tempo. E ele é a prova que perseverança e fé caminham juntas e ultrapassam essas barreiras. Nessa contínua busca pela verdade (pela razão), Agostinho encontra o Maniqueísmo, uma filosofia materialista e dualista que lhe apresenta uma pseudoverdade e Agostinho passa a viver essa doutrina. Nessa época sua mãe o coloca para fora de casa, mas depois vai atrás dele, afinal amor de mãe é infinito e ultrapassa todas as barreiras.
Nessa intensa busca Agostinho, se encontra com Fausto, o bispo dos Maniqueus; e fica decepcionado quando ouve dele as respostas que procurava. Em 383 Agostinho vai para Roma dar aulas de Retórica. Lá ele teve um problema com os alunos que deveriam pagar pelos estudos ao final do curso, mas todos foram embora e não pagaram.
Agostinho era referência em Retórica e um excelente orador. O prefeito de Roma, consegue para ele um cargo de orador na corte imperial que estava em Milão (que na época se chamava Mediolano). Agostinho parte para Milão, ele conhecia muito bem as filosofias por trás de muitas religiões e conhece o Bispo Ambrósio (Santo Ambrósio), um homem tão inteligente e mestre em retórica como Agostinho, só que mais experiente. A partir daí a vida de Agostinho toma outro rumo. Em suas Confissões, Agostinho declara: “Aquele homem de Deus me recebeu como um pai, e acolheu minha vinda como um bom bispo deveria”.
Agostinho se apaixona pela oratória e conhecimento de Bispo Ambrósio em filosofia e teologia e se converte e na Páscoa de 387 é batizado junto de seu filho Adeodato. Neste mesmo ano, decide voltar para a terra natal com sua mãe e seu filho. Mas, sua mãe, Mônica morre antes de retornarem para a África.
No ano seguinte Agostinho volta para Tagaste, seu filho Adeodato vem a falecer e ele vende os bens da família, doa aos pobres e funda uma comunidade religiosa. Em 391, devido ao constante pedido das pessoas, Agostinho é ordenado sacerdote em Hipona, (hoje a cidade se chama Annaba e está no território da Argélia). Em 396, Agostinho é consagrado Bispo de Hipona.
Conta-se que uma passagem que certa vez; Bispo Agostinho estava caminhando pela praia, pensativo sobre o Mistério da Santíssima Trindade. Eis que ao longe ele vê uma criança com um baldinho de madeira na mão. Esta criança corria até o mar enchia o baldinho com água, voltava para a praia e despejava a água em um buraco. Agostinho ficou curioso e foi até a criança e lhe perguntou o que fazia. A criança lhe respondeu que iria colocar toda a água do mar naquele buraco. Agostinho sorriu e lhe disse que aquilo era impossível. A criança parou o que fazia, olhou para Agostinho e lhe falou: “É mais fácil toda a água do mar caber nesse buraco, do que a inteligência humana compreender o Mistério da Santíssima Trindade” e em seguida, como era um anjo, desapareceu.
Agostinho morreu em 28 de agosto de 430 quando a cidade de Hipona foi sitiada e invadida. Toda a cidade foi destruída e incendiada, mas a Catedral e a biblioteca de Bispo Agostinho foram preservadas. O túmulo de Santo Agostinho está na Basílica de San Pietro in Ciel d’Oro ou Basílica de São Pedro no Céu de Ouro, em Pavia, na região da Lombardia, na Itália.
Santo Agostinho foi canonizado por aclamação popular e em 1.298 foi proclamado Doutor da Igreja pelo Papa Bonifácio VIII.
Santo Agostinho, Bispo e Doutor da igreja é festejado no dia 28 de agosto.
“Ó excelso doutor da graça,
Santo Agostinho.
Tu que contaste as maravilhas do amor
misericordioso operado em tua alma,
ajuda-nos a confiar sempre e
unicamente na ajuda divina.
Ajuda-nos, ó grande Santo Agostinho,
a encontrar a Deus: “eterna verdade,
verdadeira caridade, desejada eternidade”.
Ensina-nos a crer
e viver na graça,
superando nossos erros
e angústias.
Acompanha-nos à vida eterna,
para amar e louvar
incessantemente ao Senhor.”
Amém.
Santo Agostinho, rogai por nós.
“Tarde Te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova…
Tarde Te amei! Trinta anos estive longe de Deus.
Mas, durante esse tempo,
algo se movia dentro do meu coração…
Eu era inquieto, alguém que buscava a felicidade,
buscava algo que não achava…
Mas Tu Te compadeceste de mim e tudo mudou,
porque Tu me deixaste conhecer-Te.
Entrei no meu íntimo
sob a Tua Guia e consegui,
porque Tu Te fizeste meu auxílio.
Tu estavas dentro de mim e eu fora…
“Os homens saem para fazer passeios,
a fim de admirar o alto dos montes,
o ruído incessante dos mares,
o belo e ininterrupto curso dos rios,
os majestosos movimentos dos astros.
E, no entanto, passam ao largo de si mesmos.
Não se arriscam na aventura
de um passeio interior”.
Durante os anos de minha juventude,
pus meu coração em coisas exteriores
que só faziam me afastar cada vez mais
d’Aquele a Quem meu coração,
sem saber, desejava…
Eis que estavas dentro e eu fora!
Seguravam-me longe de Ti as coisas
que não existiriam senão em Ti.
Estavas comigo e não eu Contigo…
Mas Tu me chamaste, clamaste por mim
e Teu grito rompeu a minha surdez…
“Fizeste-me entrar em mim mesmo…
Para não olhar para dentro de mim,
eu tinha me escondido.
Mas Tu me arrancaste do meu esconderijo
e me puseste diante de mim mesmo,
a fim de que eu enxergasse o indigno que era,
o quão deformado, manchado e sujo eu estava”.
Em meio à luta,
recorri a meu grande amigo Alípio e lhe disse:
“Os ignorantes nos arrebatam o céu e nós,
com toda a nossa ciência,
nos debatemos em nossa carne”.
Assim me encontrava, chorando desconsolado,
enquanto perguntava a mim mesmo
quando deixaria de dizer “Amanhã, amanhã”…
Foi então que escutei uma voz
que vinha da casa vizinha…
Uma voz que dizia: “Pega e lê. Pega e lê!”.
Brilhaste, resplandeceste sobre mim
e afugentaste a minha cegueira.
Então corri à Bíblia, abri-a e li o primeiro capítulo sobre o qual caiu o meu olhar.
Pertencia à carta de São Paulo aos Romanos
e dizia assim:
“Não em orgias e bebedeiras,
nem na devassidão e libertinagem,
nem nas rixas e ciúmes.
Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo”
(Rm 13,13s).
Aquelas Palavras ressoaram dentro de mim.
Pareciam escritas
por uma pessoa que me conhecia,
que sabia da minha vida.
Exalaste Teu Perfume e respirei.
Agora suspiro por Ti, anseio por Ti! Deus…
de Quem separar-se é morrer,
de Quem aproximar-se é ressuscitar,
com Quem habitar é viver.
Deus… de Quem fugir é cair,
a Quem voltar é levantar-se,
em Quem apoiar-se é estar seguro.
Deus… a Quem esquecer é perecer,
a Quem buscar é renascer,
a Quem conhecer é possuir.
Foi assim que descobri a Deus e me dei conta
de que, no fundo, era a Ele, mesmo sem saber,
a Quem buscava ardentemente o meu coração.
Provei-Te, e, agora, tenho fome e sede de Ti.
Tocaste-me, e agora ardo por Tua Paz.
“Deus começa a habitar em ti
quando tu começas a amá-Lo”.
Vi dentro de mim
a Luz Imutável, Forte e Brilhante!
Quem conhece a Verdade conhece esta Luz.
Ó Eterna Verdade! Verdadeira Caridade!
Tu és o meu Deus!
Por Ti suspiro dia e noite desde que Te conheci.
E mostraste-me então Quem eras.
E irradiaste sobre mim a Tua Força
dando-me o Teu Amor!
E agora, Senhor, só amo a Ti!
Só sigo a Ti! Só busco a Ti! Só ardo por Ti!…
Tarde te amei! Tarde Te amei,
ó Beleza tão antiga e tão nova!
Tarde demais eu Te amei!
Eis que estavas dentro, e eu, fora
– e fora Te buscava,
e me lançava, disforme e nada belo,
perante a beleza de tudo e de todos que criaste.
Estavas comigo, e eu não estava Contigo…
Seguravam-me longe de Ti as coisas
que não existiriam senão em Ti.
Chamaste, clamaste por mim
e rompeste a minha surdez.
Brilhaste, resplandeceste,
e a Tua Luz afugentou minha cegueira.
Exalaste o Teu Perfume e,
respirando-o, suspirei por Ti, Te desejei.
Eu Te provei, Te saboreei e agora,
tenho fome e sede de Ti.
Tocaste-me
e agora ardo em desejos por Tua Paz!”
Santo Agostinho, Confissões
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